domingo, 24 de maio de 2009

Identidades nacionais, cultura da mídia, audiovisual, música (e sonoridades - hehe), a vida, o universo e tudo o mais

Conforme o combinado, e não sem um certo atraso, colo a seguir os apontamentos que o Grupo 2 fez a partir das teses e dissertações selecionadas no acervo do PPGCOM. Os pareceres a seguir foram feitos por mim e pela Ana Paula - tão logo digitalize os comentários, Aline, coloque eles aqui também! :-)

Abraços e até amanhã!

TIAGO

Optei por efetuar uma análise comparativa dos trabalhos em vez de discorrer sobre cada introdução isoladamente, até porque algumas dissertações podem muito bem ser agrupadas em blocos temáticos e outras comunicam-se por discretos hipertextos.

O trabalho de Janaína Ribeiro (“A crítica musical dos anos 1960 e o processo de construção da MPB: uma análise da coluna “Música Popular”, de Torquato Neto”) e o de Leonardo de Marchi certamente dialogam entre si, na medida em que ambos estão interessados, direta ou indiretamente, nos modos pelos quais determinadas configurações do cenário musical brasileiro contemporâneo foram forjadas. A diferença é que Janaína retorna à década de 60 para investigar como a MPB (pensada enquanto categoria taxionômica e dotada de legitimidade “artística”) se constituiu como “gênero”, sobretudo graças à mediação empreendida pelo discurso da crítica cultural. Leonardo, por sua vez, opta por uma abordagem mais vinculada à economia política da comunicação para discorrer sobre a (assim chamada) Nova Produção Independente brasileira posterior à década de 90 – noção esta, a de independente, que de alguma forma nasce no momento histórico que Janaína se propõe a estudar. Ambos os trabalhos apresentam uma introdução cuja estrutura é bastante clara: o recorte proposto por Janaína talvez implique um menor volume de informações com as quais lidar, o que em tese permitiria que os objetivos propostos fossem alcançados; a pesquisa de Leonardo, por sua vez, embora consistente no quesito fundamentação teórica e cuidadosa no que diz respeito à opção por uma abordagem nem demonizadora e nem celebratória, parece demandar o tempo e o aprofundamento de uma tese de doutorado para que todas as questões levantadas sejam minimamente respondidas, sobretudo no que diz respeito aos dados a serem obtidos.

Ainda seria possível criar um novo link entre a dissertação de Leonardo e a pesquisa de João Martins (“Troca de arquivos par-a-par: Napster, Gnutella e o Desenvolvimento de Tecnologias de Comunicação na Internet”), pois uma breve leitura das introduções me permitiu antever que essas tais “novas tecnologias de informação e comunicação” devem desempenhar um papel central na configuração da Nova Produção Independente tematizada pelo primeiro. Um indiscutível ponto positivo – e ao meu ver original – da dissertação de João é o deslocamento de perspectiva a que ele se propõe: em vez de focar nos usuários da tecnologia, como de hábito, ele opta por realizar uma etnografia junto aos desenvolvedores do protocolo Gnutella, munido de um instrumental teórico não apenas da área da Cibercultura, mas também da Sociologia e da Economia, aparentemente apropriados de forma dialógica. Contudo, a introdução em si me parece bastante problemática: no afã de elencar os eixos basilares da futura dissertação, em algum momento o autor se perde na enxurrada de autores, teorias, postulados e perspectivas despejada sobre o leitor. Resta a impressão de uma certa falta de critério na escolha do que seria de fato relevante para ser incluído numa introdução. Falta, igualmente, uma estrutura (de introdução) mais clara.

Um outro hiperlink que visualizo seria entre o trabalho de Janaína e o de Heitor Luz (“Rock, rádio FM e Rio de Janeiro: uma análise das estratégias de incursão da Fluminense ‘A Maldita’ e da Cidade ‘A rádio rock’ no domínio das guitarras”), já que o trabalho deste, de alguma forma, se propõe a preencher uma lacuna que os discursos hierarquizantes de legitimação da MPB – alvo do interesse de Janaína – ajudaram a criar, na medida em que relegam outros gêneros musicais a uma posição secundária enquanto objetos de estudo. Esta posição geralmente tende a ser tão mais marginal quanto mais esse gênero se configura no diálogo com uma matriz de origem anglo-estadunidense (portanto, nada “autenticamente brasileira”) como é o caso do rock and roll. No caso da dissertação de Heitor, entretanto, meu questionamento vai na direção da própria pertinência (não confundir com relevância) de alguns dos objetivos propostos. Dito de outra forma: até que ponto faz sentido comparar os modos como duas emissoras distintas, em dois contextos históricos, sociais e culturais distintos (contextos estes nos quais o próprio “valor” do rock enquanto discurso a ser interpelado também se revela cambiante) construíram suas identidades? Ao concluir que as estratégias são distintas, não estaremos concluindo algo já esperado? E mais: a natureza dos depoimentos referentes à Maldita não cria, de partida, uma certa aura em torno da emissora, à qual a pesquisa acaba por aderir e que, em virtude da ausência de depoimentos de orientação semelhante referentes à Cidade, tenderia a se aprofundar ao longo da dissertação?

Das cinco pesquisas pré-selecionadas, contudo, julgo que “A articulação Congopop: projeto, mídia e identidade na produção musical contemporânea do Espírito Santo”, de Adriana Bravin, seja o que mais se adequa ao “conceito” do grupo de trabalho criado a propósito da disciplina de Metodologia. Aqui penso para além da temática musical do meu projeto de doutorado, tentando articulá-la às questões de identidade global-nacional-local e as lógicas de apropriação de matrizes e/ou formatos “estrangeiros” em por outros contextos socioculturais, que me parecem pertinentes tanto em relação ao “cinema militante” da Aline quanto aos “formatos televisivos” da Ana Paula e aos “impasses” da música portuguesa contemporânea que constituem o foco do meu interesse específico. Que fique claro que a introdução possui méritos para além dessa pertinência para o grupo, a despeito de um uso algo instrumental (e por vezes pouco questionador) de alguns conceitos a priori relevantes, sendo essa uma das razões pelas quais julgo que a dissertação de Adriana poderia ser o foco de uma discussão mais aprofundada.


ANA PAULA

Vou fazer uma breve análise dos trabalhos que trouxe pra casa: "O mercado de TV por assinatura no Brasil: crise e reestruturação diante da convergência tecnológica" e "Diluindo fronteiras: hibridações entre o real e o ficcional na narrativa da telenovela". São duas dissertações com temáticas divergentes, mas dialogam, de certa forma, com a minha pesquisa.
O primeiro trabalho realiza uma "análise da inserção da comunicação no cenário global a partir da mudança de paradigma econômico e tecnológico, da formação do mercado global das comunicações- sua lógica de funcionamento hegemonizada por conglomerados monopolistas - e, mais particularmente, do mercado de televisão por assinatura". O que me interessa, aí, é o enfoque que se deu ao cenário global, de comunicação entre empresas televisivas de diferentes países e ao surgimento de um mercado internacional. Por outro lado, analisa-se de maneira muito específica as negociações, os valores de comercialização e de fusões destas empresas de tv por assinatura. Não há, ao menos na introdução, qualquer referência à comercialização dos produtos televisivos dos canais de TV por assinatura - algo que seria de grande interesse para minha pesquisa. Minha crítica à introdução se refere à pouca explicação que se fez sobre a metodologia empregada. E, como não há um capítulo referente à metodologia, os procedimentos não ficaram claros.

A segunda pesquisa analisa especificamente a novela Páginas da Vida. A autora sofre de "esquizofrenia das origens", aquele mal de se remeter à origem de alguma coisa que já foi estudada por milhares de pessoas até chegar ao ponto de sua pesquisa: cita o folhetim francês, a radionovela cubana, o surgimento da telenovela no Brasil... Todos estes assuntos já foram estudados por muitos autores e ela certamente não apresenta nenhum dado novo sobre o assunto. Além disso, não há referência aos métodos e técnicas empregadas e nem mesmo aos seus referenciais teóricos.
O objetivo, que ela apresentou no último parágrafo da introdução, é "mostrar que a conexão do que é contado na novela e o que é vivido no cotidiano - além do papel que a mídia exerce hoje na organização da vida do cidadão comum - dá espaço para que a narrativa da novela dilua as fronteiras entre o que se apresenta como real e o que se mostra ficcional e se aproxime da prática diária das pessoas que, muito naturalmente, já fazem esta diluição."